quarta-feira, 2 de julho de 2008

Tristes Trópicos

Segunda Parte – VI – Como surge um etnógrafo

p.49 Etnografia faz parte do termo ensino e pesquisa e não pode ser confundida com a aprendizagem de uma profissão. Ao mesmo tempo em que considera a si próprio humano, o etnógrafo procura conhecer e apreciar o homem de um ponto de vista suficientemente elevado e afastado para considerá-lo independente das contingências de uma sociedade ou civilização.

Psicanálise com ela aprende que as antinomias estáticas – racional/irracional, intelectual/afetivo, lógico/pré-lógico – não passam de um jogo gratuito.

· para além do racional, existia uma categoria mais válida e mais importante, a do significante, que é a expressão mais elevada do racional.

· oposições não o são realmente, porque condutas mais afetivas, operações menos racionais e manifestações pré-lógicas, são precisamente as mais significativas.

p.51 Psicanálise e Geologia aplicação ao homem individual de uma regra da geologia

· pesquisador vê-se colocado como chofer perante dois fenômenos aparentemente impenetráveis

· vê-se obrigado a inventariar e aferir os elementos de uma situação complexa

· por em ação qualidades de perspicácia: sensibilidade, faro e gosto.

· ordem que se introduz no conjunto à primeira vista incoerente não nem contingente nem arbitrária

Psicanálise e Geologia x História ao contrário dos historiadores, psicanalistas e geólogos procuram projetar no tempo, à maneira de um quadro vivo, certas propriedades fundamentais do universo físico ou psíquico. Interpretar cada gesto como o desenrolar no tempo de certas verdades intemporais às quais os provérbios tentam restituir o aspecto concreto sobre o plano moral mas que em outros campos, se chamam exatamente leis.

p.50 Crítica ao bergsionismo lugar-de-fé e petição de princípio, que reduz seres e coisas ao estado de cinzas para melhor poderem realçar a sua natureza inefável. Também acho que método utilizado pela filosofia para resolver problemas, e que Lévi-Strauss critica, é mesmo que o de Bergson: oposição de dois pontos de vista tradicionais; introduzir o primeiro pelas justificações do senso comum, depois destruí-las pelo segundo; eliminá-los graças a um terceiro que demonstra o caráter igualmente parcial dos outros dois, reduzidos pelos artifícios do vocabulário aos aspectos complementares de uma mesma realidade: forma e fundo, continente e conteúdo, ser e parecer, contínuo e descontínuo, essência e existência.

Para Léy-Strauss, seres e coisas podem conservar os seus valores próprios sem perderem a nitidez de contornos que os definem uns em relação aos outros dando a cada um deles uma estrutura inteligível. Conhecimento não se baseia em renúncia ou troca, mas sim numa seleção de aspectos verdadeiros, isto é, aqueles que coincidem com as propriedades do meu pensamento.

Crítica ao neokantismo conhecimento implicava constrangimento inevitável exercido sobre as coisas

Para Lévi-Strauss, isso não é factível porque o próprio pensamento é um objeto, pertencendo a esse mundo, participando da mesma natureza. Por isso é possível uma comunicação com outros objetos.

p.52 Marx seguindo os passos de Rousseau, Marx nos ensina que as ciências sociais não se constroem no plano dos acontecimentos do mesmo modo que a física não se baseia nos dados da sensibilidade: o objetivo é construir um modelo, estudar as suas propriedades e as suas diferentes espécies de reação no laboratório para a seguir aplicar essas observações à interpretação daquilo que se passa empiricamente e que pode estar muito afastado das previsões.

Marxismo, Psicanálise e Geologia compreender consiste em reduzir um tipo de realidade a outro, realidade verdadeira nem sempre é a mais evidente, natureza do que é verdadeiro transparece logo no cuidado que ele tem em se esconder.

Sensível e Racional mesmo problema para três correntes: objetivo é atingir um super-racionalismo que visa a integração do primeiro no segundo sem sacrifício de nenhuma das suas propriedades

Crítica à fenomenologia postula continuidade entre o vivido e o real. Embora real englobe e explique o vivido, Lévi-Strauss crê que há uma descontinuidade entre os dois, que é preciso repudiar primeira o vivido, nem que seja para reintegrá-lo mais tarde numa síntese objetiva despida de qualquer sentimentalismo

Crítica ao existencialismo complacente em relação às ilusões da subjetividade. Preocupação pessoal com relação à dignidade dos problemas filosóficos, embora legítima do ponto de vista didático, permite virar as costas para a missão da filosofia, que é a de compreender o ser em relação a si próprio e não em relação a mim.

p.53 Etnografia se insere no reino da psicanálise, geologia e do marxismo

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