quarta-feira, 2 de julho de 2008

A “objetividade” do conhecimento na ciência social e na ciência política – 1904, MAX WEBER

p.108 ciência social surgiu historicamente de perspectivas práticas, como uma técnica. Formular juízos de valor sobre medidas do Estado. Não havia divisão de princípios entre aquilo “que é” e aquilo que “deve ser”.

Duas correntes contrárias à divisão: 1. processos econômicos são regidos por leis naturais – e o dever ser coincidiria com o próprio ser na sua imutabilidade; 2. há princípio bem determinado na evolução dos processos econômicos – e o dever ser faz parte de um “devir”

p.109 Combinação entre evolucionismo ético e relativismo histórico que procura considerar a ética por seu conteúdo e não por seu caráter formal. Coloca a totalidade dos ideais culturais no âmbito do “ético”, esvaindo a especificidade do imperativo moral.

Crítica ao ponto de vista de que a economia política deve emitir juízos de valor a partir de uma específica cosmovisão econômica.

Segundo Weber não é tarefa de uma ciência empírica proporcionar normas e idéias obrigatórios, dos quais se pode derivar receitas para a prática. Ciência que pretende uma ordenação conceitual da realidade empírica.

Entretanto, segundo Weber, não é uma questão de que juízos de valor não deveriam ser extraídos de nenhuma análise científica devido ao fato de derivarem de determinados idéias e por isso terem origem “subjetiva”.

CRÍTICA CIENTÍFICA DOS IDEAIS E JUÍZOS DE VALOR

p.109 À consideração científica dos juízos de valor pode ser submetida a questão de se determinados meios são apropriados para alcançar os objetivos pretendidos. Pode-se também determinar acerca da possibilidade de se alcançar um determinado fim considerando meios disponíveis e criticar indiretamente a proposta dos fins, a partir dela própria. Além disso, há como – após possibilidade do fim proposto aparecer como dada – comprovar as conseqüências que teria a aplicação do meio requerido e o lucro do fim pretendido.

p.110 Não é tarefa da ciência: tomar decisões em função das ponderações relacionais entre fim e meio. É tarefa do homem da ação: ele pondera e escolhe entre os valores aqueles que estão de acordo com sua consciência e cosmovisão pessoal.

Ciência pode proporcionar ao homem de ação a consciência de que toda ação e não-ação implicam uma tomada de posição a favor de determinados valores, e, deste modo, em regra geral, contra outros valores.

Ciência também pode oferecer significado daquilo que é o objeto da aspiração.

Tarefa essencial de qualquer ciência da vida cultural: apresentação transparente de suas idéias, para compreendê-las e para saber o porquê de se ter lutado por elas.

Abordagem científica dos juízos de valor: compreender e reviver fins pretendidos e ideais que estão no seu fundamento, mas também ensinar a avaliá-los criticamente.

Caráter da crítica: dialético. Consiste em uma avaliação lógico-formal do material que se apresenta nos juízos e nos ideais, e em um exame de ideais, no que diz respeito ao postulado da ausência de uma contradição interna do desejado.

CIÊNCIA pode proporcionar ao homem que quer a consciência dos últimos axiomas, que estão na base do conteúdo do seu querer, a consciência dos critérios últimos de valor que se constituem de maneira inconsciente o ponto de partida.

p.111 Uma ciência empírica não deve ensinar a ninguém o que deve fazer, só lhe é dado o que quer fazer.

Entretanto, os últimos e supremos juízos de valor, aqueles que conferem sentido e significado à nossa vida, são percebidos como objetivamente válidos. Somente a partir do pressuposto da fé em valores tem sentido a intenção de defender certos valores; porém, emitir um juízo sobre a validade de tais valores é assunto de fé, e talvez tarefa de interpretação especulativa, mas não tarefa da ciência empírica.

p.112 Caráter político e social de um problema consiste no fato de não se pode resolver a questão com base em meras considerações técnicas, pois o problema faz parte de questões gerais da cultura.

Quanto mais “universal” for o problema em questão, quanto mais amplo for o seu significado cultural, quanto menos possível for dar uma resposta extraída do material do conhecimento empírico, tanto maior será o papel dos axiomas últimos e pessoais da fé e das idéias éticas.

Crítica ao estabelecimento de um princípio mostrado cientificamente como válido a partir do qual podem ser deduzidas, de maneira unívoca, as normas para as soluções de problemas práticos singulares.

Objetivo da ciência não é encontrar denominador comum prático para problemas na forma de idéias últimas e universalmente válidas.

p.113 temos que falar a respeito do sentido do devir do mundo não através de investigações, mas através de nós mesmos que temos que ser capazes de criar esse sentido. Temos de admitir que cosmovisões nunca podem ser um avanço no conhecimento empírico e que idéias que nos movem existem em todas as épocas na forma de luta com outros ideais que são, para outras pessoas, tão sagradas como o são para nós.

Objetividade científica não tem nada a ver com síntese de opiniões politicamente opostos, pois “linha média” não acerta verdade científica.

p.114 Não há preconceito contra tentativas de interpretar metafisicamente o mundo indo, portanto, além da ordenação conceitual de dados empíricos. Essas tentativas podem contribuir para a construção do conhecimento.

p.115 Cada valoração de uma vontade alheia só pode ser uma crítica a partir da própria cosmovisão, num combate ao ideal alheio com base no ideal da própria pessoa. Axioma do valor último,que está na base da vontade prática, deve ser não somente comprovado cientificamente, mas também apresentado nas suas relações com outros axiomas de valores.

LIMITAÇÃO OBJETIVA DA ÁREA DE PESQUISA E NATUREZA DO FIM COGNITIVO DA CIÊNCIA SOCIAL – O QUE SIGNIFICA OBJETIVIDADE.

p.118 Objeto de análise científica: natureza sócio-econômica, porque toda a nossa existência física, mesmo satisfação de necessidades ideais, deparam-se com a limitação quantitativa e com insuficiência qualitativa dos meios externos, que demandam a previsão planejada e o trabalho, a luta frente a natureza e a associação com homens. Essa natureza dos fenômenos não lhe é objetivamente inerente, é condicionado pela orientação do interesse de conhecimento.

Distinções entre aspectos econômico-sociais

1. Eventos e complexo, normas e instituições cujo significado cultural reside no seu aspecto econômico – normalmente se trata de instituições criadas unicamente para fins econômicos.

2. Fenômenos economicamente relevantes. Em determinadas circunstâncias podem adquirir significado econômico, considerando que deles resultam determinados efeitos que interessam desde perspectiva econômica.

3. Fenômenos economicamente condicionados. Influenciados de maneira mais ou menos intensa por motivos econômicos.

p.119 Fenômenos não possuem apenas um caráter e só conserva sua qualidade de “econômico”na medida em que nosso interesse está exclusivamente centrado no seu significado para a luta material pela existência.

Na medida em que a Ciência Social, por meio da regressão causal , atribui causas individuais a fenômenos culturais econômicos, ela está buscando um conhecimento histórico. Na medida em que persegue um elemento específico dos fenômenos culturais – no caso, o elemento econômico – através dos mais variados complexos culturais, no intuito de distinguir seu significado cultural, ela busca uma interpretação histórica a partir de um ponto de vista específico (uma imagem parcial para conhecimento completo da cultura).

p.121 Crítica à recusa à imparcialidade tarefa do trabalho científico não consiste em curar parcialidade da perspectiva econômica mediante a sua ampliação até se chegar a uma ciência geral do social. O “social”só possui precisão suficiente para delimitar problemas científicos, quando estes são providos de algum predicado especial que delimite seu conteúdo. O que há de geral no conceito de “social”é a sua indeterminação, e se for encarado a partir desse significado não oferece nenhum ponto de vista específico a partir do qual se possa iluminar o significado de determinados elementos.

Domínio do trabalho científico não tem por base as conexões objetivas entre as coisas, mas as conexões conceituais entre os problemas.

Preconceito obsoleto: de que a totalidade dos fenômenos culturais pode ser deduzida como produto ou função de determinadas constelações de interesses materiais.

Crítica à concepção materialista da história deve-se repeli-la enquanto concepção de mundo ou quando encarada como denominador comum da explicação causal da realidade histórica

p.122 Crítica à interpretação econômica da História. Ausência de espírito crítico na medida em que em que a interpretação da realidade é concebida como método universal, ao ponto de arranjar vários meios para manter sua validade geral.

p.124 O direito à análise unilateral da realidade cultural a partir de perspectivas específicas resulta, desde logo e em termos puramente metodológicos, da circunstância de que o treino para se observar o efeito de determinadas categorias causais qualitativamente semelhantes, bem como a constante utilização do mesmo aparelho metodológico conceitual, oferece todas as vantagens da divisão do trabalho. Ela não é arbitrária enquanto há êxito no seu procedimento, enquanto oferece um conhecimento das relações que demonstram ser valiosas para a imputação de causas a determinados acontecimentos históricos concretos.

Não existe nenhuma análise científica totalmente objetivada da vida cultural ou dos fenômenos sociais que seja independente de determinadas perspectivas especiais ou parciais, graças às quais estas manifestações possam ser selecionadas, analisadas e organizadas na exposição, enquanto objeto de pesquisa.

Ciência social é uma ciência da realidade, mas, tão logo tentamos tomar consciência do modo como se nos apresenta a vida, verificamos que ela se manifesta dentro e fora de nós, sob infinita diversidade de eventos que aparecem e desaparecem sucessiva e simultaneamente – mesmo quando isolamos nossa atenção para um único objeto e tentamos descrever essa “singularidade”.

Objetivo da compreensão científica constituído por apenas um fragmento da realidade infinita e será essencial no sentido de “digno de ser conhecido”.

PRINCÍPIOS PARA ISOLAR FRAGMENTOS

P.125 Acreditou-se que critério decisivo para isolamento de fragmentos seria a repetição regular, conforme leis, de determinadas conexões causais. O conteúdo dessas leis deveria ser o único considerado cientificamente essencial. Tudo que estiver fora dessa regularidade ou é considerado irrelevante ou objeto ainda não integrado ao sistema de leis, não se integrando ao processo “típico”. Ideal para qual tenderia o conhecimento consiste em uma série de proposições das quais seria possível deduzir a realidade.

Críticas: extração de método de outras disciplinas, como a mecânica, para o conhecimento de leis. Além disso, no limite, a realidade última da qual proviriam as leis atuais também seria refratária a leis; no mais, o que interessa às ciências sociais são os aspectos qualitativos dos fatos.

p.127 Mesmo que fosse possível reduzir os fenômenos complexos a mais simples, esse resultado não significaria nada para o conhecimento do mundo cultural historicamente dado ou seu significado cultural. Porque para o conhecimento da realidade só interessa em que esses fenômenos simples se agrupam, formando fenômenos cultural historicamente significante. Conhecimento de leis só seria importante como meio heurístico.

IDÉIAS DE VALOR

Peculiaridade das Ciências Culturais a significação da configuração de um fenômeno cultural e a causa dessa significação não podem deduzir-se de um sistema de leis, como não podem ser explicados e justificados por eles, tendo em vista que conceito de cultura é um conceito de valor.

· Realidade empírica é “cultura” para nós porque a relacionamos com idéias de valor. Cultura abrange somente aqueles componentes da realidade que através dessa relação se torna significativo para nós.

Premissa para que algo se converta em objeto de análise: o que se reveste de significação não poderá ser deduzido de um estudo “isento de pressuposto” do empiricamente dado – é a comprovação desta significação que constitui a premissa.

p.128 O significativo não coincide com qualquer lei, e isto tanto menos quanto mais geral for a lei. Significação que tem um fragmento da realidade para nós não se encontra nas relações que partilha com o maior número possível de outros elementos.

“A redução da realidade com idéias de valor que lhe conferem uma significação, assim como o sublinhar e ordenar os elementos do real matizados por esta relação sob o ponto de vista de sua significação cultural, constituem perspectivas completamente diferentes e distintas da análise da realidade levada a cabo para conhecer as suas leis e ordená-las segundo conceitos gerais. Ambas as modalidades de ordenamento do real não mantém entre si nenhuma lógica necessária”

Conhecimento dos fenômenos individuais só adquire sentido lógico mediante a premissa de que apenas uma parte finita da infinita diversidade dos fenômenos é significativa.

p.129 Número e natureza das causas que determinam qualquer acontecimentos individuais são sempre infinitos, e não existe na própria coisa critério algum que permita escolher entre elas uma fração que possa entrar isoladamente em consideração.

Problema da causalidade

Só alguns aspectos de fenômenos infinitamente diversos, e precisamente aqueles a que conferimos significação cultural, merecem ser conhecidos, pois apenas eles são objeto de explicação causal. Por sua vez, a explicação causal também oferece o mesmo aspecto, pois regressão causal exaustiva pra captar a plena realidade do objeto é impossível. Apenas colocamos em relevo as causas a que se pode atribuir, num caso concreto, elemento “essenciais” de um acontecimento

Quando se trata da individualidade de um fenômeno, o problema da causalidade não incide sobre as leis, mas sobre conexões causais concretas. Não se trata de saber a que fórmula se deve subordinar um fenômenos a título de exemplar, mas sim a que constelação deve ser imputado como resultado: é um problema de imputação causal.

p.130 Quanto mais gerais são as leis, menos valiosas são porque mais vazias de conteúdo. Quanto mais vasto é o campo abrangido por um conceito, tanto mais nos afastamos da riqueza da realidade.

Estudo “objetivo”dos acontecimentos culturais no sentido de achar redução da realidade empírica a certas leis carece de sentido. Isso não quer dizer que acontecimentos cultuais evoluam objetivamente de modo menos sujeito a leis, mas:

· conhecimento de leis sociais não é um conhecimento socialmente real, mas unicamente um dos diversos auxiliares de que nosso pensamento se serve para esse efeito

· nenhum conhecimento dos acontecimentos culturais pode ser concebido senão com base na significação que a realidade da vida, sempre configurada de modo individual, possui para nós em determinadas relações singulares.

Não existe nenhum lei que nos mostre em que sentido em condições isso sucede, pois o decisivo são as idéias de valor, prisma sob o qual consideramos a cultura em cada caso.

p.131 Cultura é um segmento finito destituído de sentido próprio no mundo, a que o pensamento conferiu – do ponto de vista do homem – um sentido e uma significação.

Indivíduo histórico está arraigado, de modo logicamente necessário, em “idéias de valor”

Premissa transcendental das ciências da cultura somos homens de cultura, datados de vontade e capacidade de assumirmos uma posição consciente em face do mundo e de lhe conferirmos um sentido.

Todo o conhecimento da realidade cultural é sempre um conhecimento subordinado a pontos de vista especificamente particulares. Saber distinguir entre o essencial e o secundário significa apenas ser capaz de referir os elementos da realidade a “valores” culturais universais, e destacar conexões que, para nós, se revestem de significado.

p.132 Concepção de trabalho científico em que é o elemento pessoal que confere valor a uma obra científica. De fato, sem as idéias de valor de um investigador não existiria princípio de seleção.

Conhecimento científico encontra-se, então, preso a premissas subjetivas pelo fato de se ocupar daqueles elementos da realidade que apresentam alguma relação com o acontecimento a que conferimos significação cultural.

p.133 Entretanto, isso não quer dizer que a investigação científico-cultural apenas conseguiria obter resultados “subjetivos”, no sentido de serem válidos para uns e não para outros. O que varia é o grau de interesse que se manifesta por um e por outro.

Apenas as idéias de valor que dominam o investigador e uma época podem determinar o objeto do estudo e os limites deste estudo. Quanto ao método, o “como” é o ponto de vista dominante que determina a formação de conceitos auxiliares de que se utiliza. E quanto ao método de utilizá-los, o investigador encontra-se evidentemente ligado às normas de nosso pensamento. PORQUE SÓ É UMA VERDADE CIENTÍFICA AQUILO QUE PRETENDE SER VÁLIDO PARA TODOS OS QUE QUEREM A VERDADE.

p.134 ESTUDO DA OBJETIVIDADE DO CONHECIMENTO NAS CIÊNCIAS DA CULTURA

Estudo racional da realidade social continuou encarando o seu objeto de forma semelhante às ciências da natureza: por meio do caminho generalizador da abstração e da análise do empírico, seria possível chegar a um conhecimento puramente objetivo e absolutamente racional – conhecimento monista da realidade, sob aspecto de sistema conceitual de validade metafísica e forma matemática.

Visto que o devir histórico era um fragmento da realidade total e que o princípio da causalidade – premissa de qualquer trabalho científico – parecia exigir a redução de todo o devir a “leis”de validade geral, e visto o descomunal êxito das ciências da natureza, que haviam incorporado esse princípio, parecia impossível conceber um trabalho científico que não fosse o da descoberta de leis do devir em geral.

p.135 Elemento científico dos fenômenos apenas podia ser constituído pelo aspecto “legal”, de leis, enquanto “acontecimentos individuais” só podiam ser levado em conta enquanto “tipos”, como representativos da lei (exemplos). Interesse pelos “tipos”não era considerado interesse científico enquanto tal.

TIPO IDEAL

p.137 No que diz respeito à investigação, o conceito de tipo ideal propõe-se a formar o juízo de atribuição (avaliar funções). Não é uma hipótese, mas pretende apontar caminho para a formação de hipóteses. Não é uma exposição da realidade, mas pretende conferir a ela meios expressivos unívocos.

Obtém-se um tipo ideal mediante a acentuação unilateral de um ou de vários pontos de vista e mediante o encadeamento de grande quantidade de fenômenos isoladamente dados, que se podem dar em maior ou menos número ou mesmo faltar pó completo, e que se ordenam segundo os pontos de vista unilateralmente acentuados, a fim de formar um quadro homogêneo de pensamento.

p.138 É impossível encontrar empiricamente na realidade este quadro, na sua pureza conceitual, pois trata-se de uma utopia. A atividade historiográfica possui a tarefa de determinar a proximidade ou afastamento entre a realidade e o quadro ideal, medindo, portanto p. ex., se o caráter econômico de determinada cidade poderá ser qualificada como “economia urbana”, no sentido conceitual.

Quadros idéias no sentido puramente lógico devem ser rigorosamente separadas da noção de dever ser, do “exemplar”. Trata-se da construção de relações que parecem suficiente motivadas para a nossa imaginação, e, consequentemente, “objetivamente possíveis”, e que parecem adequadas ao saber nomológico.

p.139 Crer que o conhecimento da realidade histórica deve ser uma cópia sem pressuposições de fatos objetivos, estará negando a esses fatos qualquer valor. Até o mais simples extrato de documento só terá sentido científico com relação a significações, em relação à idéia de valor. Entretanto, surge o problema se essa construção é um mero jogo. De fato, nunca se poderá decidir a priori se se trata de um mero jogo mental (a construção desses quadros) ou de uma construção conceitual fecunda para as ciências. O único critério é o da eficácia e, portanto, a construção de tipos idéias não interessa enquanto fim, mas como meio de conhecimento.

p.140 Se quisermos definição genética do conteúdo do conceito, nos restará apenas a forma do tipo ideal. Trata-se de um quadro de pensamento, não de uma realidade histórica; não se trata de um esquema em que se possa incluir a realidade à maneira exemplar. Tem o significado de um conceito-limite, puramente ideal, em relação ao qual se mede a realidade a fim de esclarecer o conteúdo empírico de alguns de seus elementos importantes, e com o qual esta é comparada.

Tipo ideal é, acima de tudo, uma tentativa de apreender os indivíduos históricos ou seus diversos elementos em conceitos genéticos.

O conceitos se tornam tipos ideais quando queremos compreendê-los com referência a certos significados culturais importantes que esse “espírito conceitual” teve para a civilização em questão, e é aí que aparecem certas características essenciais e precisas visto que se encontram em uma relação causal adequada em relação aos efeitos – conceitos não se satisfazem então na sua plena pureza conceitual.

Tipo ideal é conceito puramente classificatório e qualquer outro tipo nos afasta da realidade. Entretanto, como só captamos a realidade através de cadeias de transformações faz com que, para nós, seja necessária uma espécie de estenografia/taquigrafia conceitual. Talvez, ao nível da investigação isso seja desnecessário, mas ao nível da exposição, é imprescindível. É apenas sob o ponto de vista histórico e jurídico que o conceito é válido para a realidade histórica. Para quem estuda significação prática, isso é impossível.

p.141 Relação entre “idéia”, no sentido de tendência de pensamento prático e teórico de uma época, e “idéia”, no sentido de tipo ideal desta época.

· um tipo ideal obtido através da abstração de certas manifestações sociais de uma época podem ser efetivamente consideradas como um ideal a ser alcançado na prática ou máxima para regulação de certas relações da época.

relação de causalidade entre a idéia historicamente comprovável que domina os homens e os elementos da realidade histórica dos quais se pode fazer abstração ideal correspondente pode adotar formas variáveis.

· idéias que dominaram os homens de uma época, que neles atuaram de forma difusa, só poderão ser compreendidas sempre que formarem um quadro de pensamento complexo, com rigor conceitual, sob forma de tipo ideal, pois, empiricamente, elas habitam a mente de diversos indivíduos, expostos a diversos matizes.

p.143 Quanto mais vastas são as relações que se devem expor, quanto mais variada tiver sido a sua significação cultural, tanto mais a sua apresentação será sistemática e global num sistema conceitual e mental se aproximará de um tipo ideal e tanto menos se tornará possível ficar com um único conceito do gênero. Será tanto mais natural e necessário repetir a tentativa de construir novos conceitos de tipo ideal, com a finalidade de tomar consciência de sempre novos aspectos de significação.

Tipo idéias são meios conceituais para comparar e medir, com relação a eles, a realidade.

Tipos idéias são tipo ideais não só no sentido lógico, mas também no sentido prático. São exemplares que contém aquilo que deveria ser segundo o ponto de vista do cientista, aquilo que em sua opinião é essencial, porque representa valor permanente pra ele.

Tipo ideal reivindica validade empírica e se penetra na região avaliadora de algo, abandona-se o campo da ciência experimental para fazer uma profissão de fé individual, não uma construção típico-ideal. Cientista às vezes se propõe a compreender por si própria a época sobre a qual fala e, por outro lado, quer tb avaliá-la, obtendo os padrões de seus juízos a partir da própria matéria do seu estudo. Da “idéia”, no sentido de ideal, nasce, então, da “idéia, no sentido típico-ideal.

p.144 Deve-se fazer distinção estrita entre a relação que compara a realidade com tipos ideais no sentido lógico, e a apreciação avaliadora dessa realidade a partir de idéias.

p.145 Diferença entre “típico abstrato” e “genérico abstrato”. Formação dos conceitos típicos no sentido de eliminação do acidental tem lugar no estudo das singularidades históricas. Entretanto, também, podemos conferir aos conceitos genéricos que encontramos continuamente sob a forma de elementos constitutivos dos enunciados históricos, a forma de tipo ideal...com auxílio da abstração e da acentuação de determinados dos seus elementos conceitualmente essenciais.

obs. conceitos genérico - complexo de características que são comuns a vários fenômenos.

Trata-se de um dos modos mais práticos de se aplicar os conceitos de tipos-ideais, pois cada tipo ideal individual é composto por elementos conceituais genéricos e que foram elaborados a maneiras de tipos ideais.

A diferença entre conceitos genéricos simples e tipos ideais genéricos é fluida nos pormenores. Mas nenhum conceito genérico possui, enquanto tal, caráter típico, como também não existe tipo “médio” puramente genérico. Nas grandezas “típicas”há sempre algo mais que termo médio. Quanto mais tratar de classificações de processos que se manifestam na realidade de forma maciça, mais se tratará de conceitos genéricos. Quanto mais se atribui uma forma conceitual aos elementos que constituem o fundamento da significação cultural específica da s relações históricas, tanto mais o sistema de conceitos adquirirá caráter ideal. Porque a finalidade da formação de conceitos de tipo ideal consiste sempre em tomar rigorosamente consciência na do que ;e genérico, mas, muito pelo contrário, do que é específico a fenômenos culturais.

p.146 Crítica ao naturalismo que, ao querer reduzir a realidade a leis por meio do conceito de típico, confunde tipo ideal com realidade.

p.149 Relação entre conceito e concebido comporta, nas ciências da cultura, o caráter transitório de qualquer síntese entre conceitos que dependem do modo de propor problemas e problemas que variam de acordo com conteúdo da cultura..

Grandes construções conceituais devem seu valor ao fato de por a descoberto os limites da significação do ponto de vista que lhes servia de alicerce.

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