quarta-feira, 2 de julho de 2008

Antropologia Estrutural I.

Capítulo I - Introdução: História e Etnologia

p.13 Hauser e Simiand - primeiras distinções entre história e sociologia: caráter monográfico e funcional do método histórico e caráter comparativo do método sociológicos.

Etnologia e etnografia como ramos da sociologia. Transposição do debate tradicional ao seio da etnologia em seu conjunto (e história, em seu conjunto).

p.14 paradoxo suplementar: tese dos historiadores se encontra retomada textualmente, entre os etnológicos, exatamente pelos mesmos que se proclamam adversários do método histórico. Causa: origem da etnografia.

Renúncia ao termo sociologia que não conseguiu merecer o sentido geral de corpus, como pretendiam Durkhiem e Simiand. Causa: sociologia enquanto reflexão acerca dos princípios da vida social e das idéias que os homens mantêm ou mantiveram a esse respeito (visão européia), se reduz à filosofia social e permanece estranha ao estudo. Enquanto conjunto de pesquisas positivas relativas à organização e funcionamento das sociedades do tipo mais complexo (visão anglo-saxã), tende a ser uma especialidade da etnografia – entretanto, etnografi oferece um valor tópico maior (por causa do tipo de sociedade – não complexa – que estuda).

Etnografia: consiste na observação e análise de grupos humanos considerados nas suas particularidades e visando à reconstituição da vida de cada um deles. Geralmente toma o mesmo sentido em todos os países.

Etnologia: utiliza de modo comparativo os documentos apresentados pelo etnógrafo. Corresponderia ao que se chama, nos países anglo-saxões, de antropologia social e cultural.

Ambas correspondem a duas etapas de uma mesma pesquisa, que termina, enfim, em modelos mecânicos. Enquanto a História termina em modelos estatísticos.

p.15 Antropologia social: estudo das instituições como sistemas de representações

Antropologia cultural: estudo das técnicas e, eventualmente, também das instituições, consideradas como técnicas ao serviço da vida social.

Conflito Etnologia e História é também drama interior das ciências etnológicas:

- ou etnologia se vincula à dimensão diacrônica dos fenômenos, e se torna capaz de traçar-lhes a história; tentar reconstituir um passado do qual se é impotente para atingir a história

- ou etnografia procura trabalhar à maneira do historiador, e a dimensão do tempo lhes escapa. Querer fazer história de um presente sem passado .

Oposição clássica evolucionismo x difusionismo.

p.16 Crítica ao evolucionismo. Em etnologia, o evolucionismo é repercussão direta do evolucionismo biológico. Grupos primitivos são sobrevivências de etapas anteriores. Entretanto, uma escolha ilimitada de critérios de evolução permitiria a construção de um número ilimitado de séries.

Crítica ao difusionismo. Retalhe de culturas em elementos isoláveis por abstração e estabelecer (não mais entre culturas) entre elementos do mesmo tipo relações de filiação e diferenciação progressiva. Distribuição geográfica desses objetos e sua transmissão de região a região deve ser estudada como naturalistas estudam distribuição de animais e vegetais. Perigo: a validade histórica das reconstruções do naturalista é garantida pelo vínculo biológico da reprodução, enquanto entre dois utensílios diferentes, mas de forma parecida haverá sempre uma descontinuidade, que provém do fato de que um não resulta do outro, mas cada qual resulta de um sistema de representações.

p.18-19 Crítica ao evolucionismo e difusionismo. Não nos ensinam nada acerca dos processos conscientes e inconscientes, traduzidos em experiências concretas, individuais e coletivas, pelas quais homens que não possuía uma instituição chegaram a construí-la, quer por transformação de outras instituições, quer por tê-la recebido de fora. Esses objetivos essenciais de pesquisa seriam identidade entre história e etnografia.

p.18 Evolucionismo e difusionismo x método histórico. Este estuda sempre indivíduos, quer sejam pessoas ou acontecimentos, ou grupos de fenômenos individualizados por sua posição no espaço e no tempo. O difusionista – quebra espécies do comparatista para tentar reconstituir indivíduos com fragmentos emprestados de categorias diferentes: construção de um pseudo-indivíduo, não confere unidade real ao objeto. Tanto os “ciclos” do difusionista quanto os “ estágios” do evolucionista, são fruto de uma abstração à qual faltará sempre a corroboração de testemunhas. História de ambas as correntes é sempre conjetural e ideológica.

p.19 Boas e seu método.

- limitações: tudo que etnólogos elaboram sobre história dos povos primitivos são reconstruções. Não se dispõem de nenhum fato que lance luz sobre desenvolvimentos das histórias dos povos primitivos

- método frutífero: estudo detalhado dos costumes, e de seu lugar na cultura global de quem o pratica, acrescido de um inquérito sobre a repartição geográfica de outras tribos, permite determinar (até certo ponto): 1. causas históricas que conduziram à sua formação 2. processos psíquicos que os tornaram possíveis. Pesquisa deve restringir-se a pequena região e comparações não devem se estender demais. Não se obtém jamais certeza cronológica, somente se pode atingir altas probabilidades.

p.20 Crítica à teoria das sobrevivências. Seria necessário provas que um dos tipos é mais primitivo que o outro; que o tipo primitivo evolui necessariamente para outra forma; que a lei opera mais rigorosamente no centro de uma região do que na sua periferia. Tripla e impossível determinação.

p.21 Contra as pretensas leis universais do desenvolvimento humanos, Boas opõe uma análise crítica que, se levada ao extremo, conduziria a um agnosticismo histórico completo.

Etnologia e História. As provas de mudança só podem ser obtidas por métodos indiretos, como uma filologia comparada, análise de fenômenos estáticos e um estudo da sua distribuição. Para saber a história, não basta saber como são as coisas, mas como chegaram a ser o que são. Cada agrupamento humano é uma singularidade.

p.22 ritmo do pensamento de Boas. Atribui às pesquisas etnológicas um objeto científico e de alcance universal (determinou que problema era determinar relações entre caráter objetivo e subjetivo do homem).

caráter paradoxal de Boas. Quando tentava aplicar métodos rigorosos das ciências naturais no caráter subjetivo, reconhecia a infinidade de processos históricos pelos quais ele se constitui em cada grupo, ficando assim a histórica fora de alcance. Assim, quando tenta atingir a história, acaba constituindo uma micro-história, ao invés da macro-história dos evolucionistas e dos difusionistas

p.23 reação de Malinowski e da Escola Americana. Renúncia a compreender a história e fazer do estudo das culturas, uma análise sincrônica das relações entre seus elementos constitutivos, no presente. Mas, será possível conhecer profundamente uma cultura, sem conhecer seu desenvolvimento histórico?

p.24 Organizações dualistas

- interpretação evolucionista: estado necessário do desenvolvimento da sociedade, determinação de uma forma simples cujas formas observadas seriam sobrevivências e vestígios e depois postular presença antiga dessa forma entre povos que nada atesta terem sido organizações dualistas,

- interpretação difusionista: escolha de um dos tipos observados (mais rico e complexo), como representando a forma primitiva da instituição, e consignará sua origem à região do mundo em que se encontra melhor representado, considerando todas as formas como resultado de migrações.

* em comum, os dois têm o fato de designar arbitrariamente um tipo, transformá-lo em modelo e, por um método especulativo, reduzir todos os outros.

- nominalismo boasiano: estudar cada caso observado do mesmo modo que indivíduos. Funções atribuídas à essa organização não coincidiria e história de cada grupo social mostra que a divisão em metades provém de origens diversas.

* seremos conduzidos a despedaçar a noção de organização dualista, como constituindo falsa categoria e, estendendo esse raciocínio, negar as instituições em benefício exclusivo das sociedades

p.25 Crítica os funcionalistas.

1. ou proclamam que todo estudo etnográfico deve proceder de estudo sincrônico detalhado e fazem o que Boas recomendara fazer, assim como a Escola Francesa. 2. ou encontrar a salvação e fechar os olhos a toda informação histórica relativa à sociedade considerada, e a todo método comparativo emprestado de outras sociedades, assim encontrando verdades gerais (possibilidade que Boas jamais negou) – essa foi a opção de Malinowski, que encontrou verdades eternas sobre a natureza e a função das instituições sociais.

p.26 Trabalhar sobre uma única sociedade por resultar em monografias preciosas, mas nos limitamos a concluir apenas sobre essa sociedade. E, quando nos limitamos aos instante presente da vida de uma sociedade, somos vítimas de ilusão, pois tudo é história. Somente a história e seu desenvolvimento podem sopesar e avaliar os elementos do presente. MUITO POUCA HISTÓRIA VALE MAIS DO QUE NENHUMA HISTÓRIA.

p.27 Função primária e função secundária. Primeira corresponde a uma necessidade atual do organismo social, a segunda, se mantém apenas por causa da resistência do tempo em renunciar a um hábito.

Crítica ao funcionalismo. dizer que uma sociedade funciona é truísmo; mas, dizer que TUDO, numa sociedade, funciona é absurdo (perigo que Boas já previa com relação ao funcionalismo).

Biólogo e psicólogo: estudam caracteres universais. Etnógrafo: descreve e analisa as diferenças que aparecem na maneira pela qual se manifestam nas diversas sociedades. Etnólogo: explica essas diferenças. O que interessa a ele não é a universalidade da função, e sim que os costumes sejam tão variáveis.

p.28 Uma disciplina cujo objetivo é analisar e interpretar as diferenças não deve se poupar com as semelhanças. Mas, ao mesmo tempo, perde o meio de distinguir o geral, ao qual pretende, do banal, com o qual se contenta.

p.30 Malinowski: mistura de dogmatismo e empirismo que contamina todo o seu sistema. Elemento também presente em Margaret Mead – simplificação e apriorismo.

p.31 Construções apressadas: como Boas percebera, superestima do método histórico, mais do que uma atitude contrária (visto que foram historiadores que formularam esse método)

p. 32 a crítica das interpretações evolucionista e difusionista nos mostrou que, quando o etnólogo acredita fazer história, faz o contrário da história; e é quando imagina não fazê-la que se conduzcomo um bom historiador, que estaria limitado pela mesma insuficiência de documentos.

p.32 similitudes etnógrafia e história.

-ambos estudam sociedades que são outras que não aquela onde vivemos.

-lidam com sistemas de representação que diferem para cada membro do grupo estudado e, em conjunto, das representações do investigador

- alargam a experiência particular às dimensões de uma experiência geral ou mais geral, e que se torne, por isso, acessível enquanto experiência.

-condições: simpatia, rigor, exercício e objetividade.

p. 33 pesquisas etnológicas e história

etnógrafo:alguém que recolhe fatos e os apresenta em conformidade com exigências do historiador. coleta e organização de documentos.

historiador: utilizar estes trabalhos, quando observações distribuídas num período de tempo suficiente lhe permitem. coleta e organização de documentos.

etnólogo: quando observações de um mesmo tipo, referentes a um número suficiente de regiões diferentes, lhe possibilitam isso. Estudo de modelos construídos a partir e por meio desses documentos.

similitudes etnologia e história diferenças não são nem de método, nem de objetivo, nem de objeto. têm o mesmo objeto (vida social); mesmo objetivo (compreensão melhor do homem); método varia apenas na dosagem dos processos de pesquisa, se distinguem pela escolha de perspectivas complementares: história organizando dados em relação às expressões conscientes e etnologia em relação às condições inconscientes da vida social.

p.35 Boas e natureza inconsciente dos fenômenos . assimila-os também à linguagem, mostrando como a estrutura da língua permanece desconhecida até o surgimento das gramáticas científicas e que, mesmo então, ela continua a modelar o discurso fora da consciência do sujeito, impondo ao seu pensamento quadros conceituais que são tomados por categorias objetivas. Existe diferença de grau entre fenômenos inconscientes e culturais, mas também identidade profunda.

p.36 Boas, entretanto, não chegou a utilizar esses métodos lingüísticos em função da etnologia. Sem dúvida, se proíbe de reter racionalizações secundárias e reinterpretações comuns à etnografia de Malinowski; mas continua a utilizar categorias do pensamento individual e consegue apenas descarna-lo de suas ressonâncias humanas. Restringe a extensão das categorias que compara mas não as constitui em um outro plano, proibindo-se comparar.

Legitimidade da comparação lingüística comparação que é mais que um fracionamento: é uma análise real. Das palavras o lingüista extrai a realidade fonética do fonema, deste, a realidade lógica dos elementos diferenciais. E, quando em várias línguas, reconheceu a presença dos mesmos fonemas ou o emprego dos mesmos pares de oposição, ele não compara seres individualmente entre si: é o mesmo fonema, o mesmo elemento, que garantem este novo plano de identidade. Não se trata de dois fenômenos semelhantes, mas de um único. A passagem do consciente a inconsciente é acompanhada de um progresso do especial para o geral

p.37 semelhanças etnologia e lingüística não é a comparação que fundamenta generalização, mas o contrário e também em como chegar à estrutura inconsciente.

A atividade do inconsciente do espírito consiste em impor formas a um conteúdo e formas são fundamentalmente as mesmas em todos os espíritos, é preciso notar que basta atingir a estrutura inconsciente, subjacente a cada instituição ou a cada costume, para obter um princípio de interpretação válida para outras instituições e costumes.

Importância das análises sincrônicas mostrando como as instituições se transformam, esta análise pode destacar a estrutura subjacente a formulações múltiplas e permanente através de um sucessão de acontecimentos. aqui haveria alguma relação com as críticas que o Weber faz à utilização de certos conceitos, ao marxismo quando passa de um ótimo fabricante de idéias para um dogmatismo?

p.38 Organizações dualistas desde perspectiva estruturalista análise de cada sociedade para encontrar, por trás do caos das regras e dos costumes, um esquema único, presente e agindo nos contextos locais e temporais diferentes. dúvida: isso que o Lévi-Strauss propõe não é apenas ma maneira de de fazer o que critica só que a um nível inconsciente? como se a única coisa que pudesse ser igual a todos é algo que não pode ser visto, mas que está por trás do que todo mundo faz? não estou sabendo localizar bem qual método se parece com o que ele ta fazendo, mas parece bem similar, em termos formais a outros método, só que o denominador comum (o conteúdo daquilo que está nessa forma) é o inconsciente. Talvez a reposta seja que essa constância é achada nas relações e não em caracteres/termos.

Este esquema não corresponde nem a um modelo particular, nem ao agrupamento arbitrário de caracteres comuns a diversas formas. Ele se reduz a algumas relações de correlação e oposição, sem dúvida inconscientes e, por isso mesmo, devem estar presentes mesmo entre aqueles que não conhecem esta instituição.

p.39 Organização Dualista possui três elementos estruturais:

1. exigência de regra

2. noção de reciprocidade, que permite integrar oposição do eu e do outro

3. caráter sintético do dom

Finalidade da etnologia não pode permanecer indiferente aos processos históricos expressões conscientes dos fenômenos culturais, mas, se ela lhes dá mesma atenção que o historiador e pra eliminar tudo ao acontecimento e à reflexão. Sua função é atingir um inventário de possibilidades inconscientes, que existem em número limitado e cujo repertório e relações de compatibilidade e incompatibilidade que cada uma mantém com as outras fornecem uma arquitetura lógica a desenvolvimentos históricos imprevisíveis.

Marx “Os homens fazem sua própria história, mas não sabem que a fazem” – segundo termo justifica a etnologia.

História não ignora elementos inconscientes da vida social, mas deve ignora-los na medida em que tentam reunir e explicar o que se manifestou aos homens como consequências de suas representações ou atos. História política (racionalizações secundárias e reinterpretações) e história econômica (história das operações inconscientes – impregnado de etnologia)

p.40 semelhanças etnologia e história deslocamento que efetuam aparecem de modos diferentes, mas o procedimento é o mesmo: do explícito para o implícito (historiadores) do particular ao geral (etnólogo)

diferenças etnologia e história se o percurso é o mesmo, a orientação é diferente: etnólogo caminha pra frente procurando atingir através do consciente, o consciente para o qual se dirige; ao passo que o historiador avança recuando, conservando os olhos fixados nas atividades concretas e particulares, das quais se afasta somente para considera-las sob perspectiva mais rica e completa.

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