quarta-feira, 2 de julho de 2008

Os intelectuais e a organização da cultura. Cultura e Sociedade no Brasil. Nelson Coutinho. 1980

p.15 Gramsci – ampliação da teoria marxista clássica do estado. Com a intensificação dos processos de socialização da política, com a estandartização dos comportamentos humanos gerados pela pressão do desenvolvimentos capitalista...

p.16 ... surge uma esfera social, dotada de leis e funções relativamente autonomas e especificas, e de uma dimensão material própria: a sociedade civil. Novidade terminológica com relação a Marx e Engels (sociedade civil = relações de produção econômicas), retomando Hegel (introduz na sociedade civil as corporações, associações político econômicas, que, de certo modo, podem ser vistas como formas primitivas dos modernos sindicatos.

Gramsci o Estado – mecanismos de poder – não se limita mais aos institutos dominação direta, aos mecanismos de coerção ( Estado em sentido estrito, sociedade política, e que ele identifica com o governo: burocracia executiva, aparelhos policial-militares, organismos repressivos em geral). Ao lado deles, emerge a sociedade civil.

Sociedade Civil através delas ocorrem relações sociais de direção político ideológica, de hegemonia, que completam a dominação estatal, a coerção, assegurando também o consenso dos dominados.

p.17 Althusser e Gramsci. aparelhos ideológicos de estado x aparelhos privados de hegemonia (organismos da sociedade civil). Chave da diferença é a revolução democrático burguesa e consequente laicização do estado. Instancias ideológicas de legitimação passam a ser algo privado em relação ao publico.

p.18 Sociedade civil campo dos aparelhos privados de hegemonia, espaço de luta pelo consenso, pela direção político-ideológica.

· função própria: garantir (ou contestar) a legitimidade de uma formação social e de seu Estado, os quais não tem mais legitimidade em si mesmos, carecendo do consenso da sociedade civil para se legitimarem.

· materialidade social própria: conjunto de organismos e objetivações sociais, diferentes tanto das objetivações da esfera econômica quanto das objetivações do Estado strictu sensu.

Entre o Estado que diz representar o interesse público e os indivíduos atomizados no mundo da produção, surge uma esfera pluralista de organizações, sujeitos coletivos, em luta ou em aliança entre si.

Quando sociedade civil surge e quando ela não está totalitariamente subordinada a um Estado DESPÓTICO, PODEMOS DIZER QUE A SOCIEDADE PASSOU DE SEU período meramente liberal para um período liberal-democrático.

p.19 Para Gramsci, organização da cultura já não é algo diretamente subrdinado ao Estado, mas resulta da própria trama complexa e pluralista da sociedade civil. É também momento necessário da articulação e afirmação da própria sociedade civil. Intelectuais podem se organizar com essa esfera de organismos privados, exercendo suas atividades através e no seio dessas formas autônomas de criação e difusão da cultura.

Intelectual orgânico com a emergência da sociedade civil e da organização cultural, os intelectuais ligam-se predominantemente às suas classes de origem ou de adoção através da mediação representada pelos aparelhos privados de hegemonia. Intelectual já não é funcionário direto do estado, nem tampouco intelectual sem vínculos que julga comprometer apenas a si mesmo. Tem maior consciência do vinculo indissolúvel entre sua função e as contradições concretas da sociedade.

p.20 Organização da cultura ;e o sistema das instituições da sociedade civil cuja função dominante é concretizar o papel da cultura na reprodução ou na transformação da sociedade como um todo.

p.21 Brasil conhece uma trajetória que leva de uma situação de completa debilidade ou mesmo ausência da sociedade civil até outra situação, a presente, caracterizada por uma sociedade civil mais ativa, mais complexa, mais articulada – expressão do progressivo ingresso na era do capitalismo industrial.

p.22 Brasil colonial sociedade pré-capitalista (ainda que articulada com capitalismo através do mercado mundial) – completa inexistência de uma sociedade civil. Sem parlamento, partidos, sistema de educação para além da catequese. Organização da cultura era tosca e primitiva. Intelectuais ligados ao Estado.

Independência necessidade de elaborar camada de intelectuais capazes de servir ao novo Estado. Isso impôs a criação de instituições de ensino superior na própria ex-colonia. Surge também um incipiente mercado cultural e sistema de organização da cultura: publicam-se jornais, editam-se livros, montam-se peças de teatro.

Regima escravista, ainda que importasse cultura e instituições do capitalismo liberal.

Conseqüências para situação do intelecutual: escravismo cria vazio entre as duas classes fundamentais da sociedade brasileira

· escravos desorganizados e carentes de projeto político não podem absorver intelectuais orgânicos.

· latifundiários escravocratas que necessitavam dos intelectuais como mão de obra qualificada para atividades administrativas do estado

p. 23 A mais escolhida era cooptação pelas classes dominantes que assumiam frequentemente o traço de favor pessoal, disfarçado pelo status relativamente elevado atribuído à condição de intelectual

p.24 Posse da cultura era um meio de distinção para homens livres mas não proprietários, que não queriam se dedicar ao trabalho efetivo, já que o trabalho era marcado pelo estigma da condição escrava, nesse traço residia o status elevado do intelectual. Esse status ao mesmo tempo em que servia de disfarce para a posição dependente do intelectual, acentuava o caráter ornamental da cultura dominante.

p.25 Caracteristica central da cultura que nasce no solo da cooptação: promove uma apologia indireta do existente, que justifica a estrutura social não mediante a sua defesa, mas mediante a mistificação ou cultamento ou mediante a afirmação de que ela é imutável e que devemos nos resignar com ela (romantismo e naturalismo)

Primeira República tb fruto de mudança pelo alta, pouco mais que um golpe militar, massas continuavam desorganizadas. Instituições criadas não serviam para fortalecer a sociedade civil. Vida intelectual restrita a poucos setores da classe media, cultura ornamental.

p.26 Anos 20 sec XX sociedade brasileira vai se tornando mais complexa, capitalismo vai se tornando modo de produção dominante tb nas relações internas. Começa a surgir classe operária, esboços de industrialização, imigração/ bloco social contestatário que coloca em discussÃo o modelo prussiano. Surge germe da sociedade civil = embrião de organização cultural exterior ao Estado.

1922 fundação do Partido Comunista – representava embrião de um autêntico partido moderno, que é momento básico de uma sociedade civil efetiva.

p.27 Estado pós-30 lutou para extinguir a autonomia da sociedade civil nascente, incorporando corporativamente os sindicatos à estrutura do Estado, instalando em 1937 uma ditadura aberta.

p.28 Mas, diversificação da formação social brasileira prosseguia pois o próprio capitalismo à prussiana, impulsionado pelo estado getulista encarregava-se de promovê-la.

Cultura nacional-popular nos romances nordestinos (lins rego, gracialiano)

Aparecem tendência à socialização da polítca que começa a se manifestar nos anos 30. Mivimentos políticos de massa como aliança nacional libertadora e a ação integralista brasileira.

p.29 Golpe de 1937 comprovação de que é débil a sociedade civil, embrionária. Empreendimento de uma processo de modernização capitalista conservadora, afastando o povo de qualquer decisão, quebrando autonomia da soeciedade civil nascente.

1945 embriões da sociedade civil aparecem de modo mais claro, com a redemocratização do país. Partido comunista como partido de massas, sindicatos começam a ter peso crescente nas lutas econômicas, mesmo que ainda ligados ao Ministério do Trabalho, camadas medias buscam organizações independentes nos partidos ou fora. Democratização geral da vida brasileira.

p.30 Tudo isso amplia o campo da organização material da cultura, há empenho social da intelectualidade, maior comprometimento com as causas populares e nacionais.

Possibilidade de subsistir fora da cooptação e do favor dos poderosos, graças às redes de organização culturais, permite ao intelectual escapar facilmente dos impasses a que é levado pela situação do intimismo à sombra do poder.

p.31 Intelectual brasileiro não é necessariamente elitista só porque ser funcionário publico

· há tendência para que isso ocorra, mas essa tendência só se dá pela média.

· exceções à média aumentam no momento em que se estrutura uma sociedade civil.

período pré-1964 constante ampliação da democratização geral da vida brasileira.

p.32 1964 truncamento do processo de democratixação impondo uma solução prussiana para problema da necessidade de levar o país a uma nova acumulação capitalista. Houve esforço par destroçar sociedade civil autônoma e organizações da cultura não foram poupadas.

· repressão e censura dos intelectuais que defendiam orientação nacional popular

· autonomia da sociedade civil que é base necessária para cultura pluralista e democrática.

Foi responsável pela passagem do capitalismo brasileiro para nova etapa: capitalismo monopolista de Estado – parte substancial do sistema de organização da cultura passou a ser dominada por monopólios..

p.34 O regime, modernizando o país, promovendo o intenso desenvolvimetno das forças produtivas, deu impulso aos fatores objetivos que levam a uma diferenciação social e, como tal, à construção de uma autentica sociedade civil entre nós.

Ditadura brasileira não foi ditadura fascista clássica, ou seja, um regime reacionário com base de massas organizadas. Se tratou sempre de um consenso passivo, que pressupunha atomização das massas e não se expressava mediante organizações de apoio ativo à ditadura. Regime era desmobilizador. Sua tentativa de legitimação não se fundava numa ideologia claramente fascista, mas na luta contra ideologias em geral, contra a política, acusadas de dividirem a nação e de impedirem a segurança que garante o desenvolvimento. Dispensou luta de massas e intelectuais orgânicos.

p.35 anos 70 crise dessa ideologia da não ideologia.Para lutar pela obtenção do consenso civil se viu forçado a abandonas a repressão e fazer política.

p.36 Intelectual sente necessidade de se organizar, luta pela sua autonomia enquanto criador. Luta específica articula-se com a luta geral, pela liberdade de expressão, criação e crítica, que so podem ser preservadas em um regime democrático aberto à democratização social. Intelectuais passam a ser uma parcela do mundo do trabalho.

Intelectuais passam a compreender de dentro (como produtores de culturs) a necessidade de construção de uma sociedade democrática.

Nenhum comentário: