quarta-feira, 2 de julho de 2008

“Por que Almocei meu Pai”, Roy Lewis e “A Guerra do Fogo”, Jean-Jaccques Annaud

A utilização do fogo durante a pré-história é o tema central em “Por que Almocei meu Pai” e “A Guerra do Fogo”. Apesar da semelhança quanto à determinação do que se acredita ter ocorrido no período, o enfoque dado pelas obras é distinto e, em determinados momentos, é possível criticar uma utilizando-se da outra.

Podemos notar pontos convergentes ao longo do desenvolvimento das duas tramas. Ambas mostram como num mesmo momento histórico existiam várias hordas humanas com diferentes graus de complexidade e como havia inteiração entre elas. Além disso, é notável como a utilização do fogo e seu posterior controle foram de suma importância para a mudança nos hábitos alimentares, o estabelecimento de grupos humanos nas cavernas e o conseqüente desenvolvimento da cultura e tudo que a forma: afeto, religiosidade, tabus, instrumentos etc.

Entretanto, há um aspecto singular no livro de Lewis que o diferencia do filme: a existência de discursos que revelam vozes do pensamento antropológico pretérito. Tio Vanya, por exemplo, apresenta uma visão que tende para o Romantismo e a concepção do “bom selvagem” – figura que encontra bases teóricas no pensamento rousseauniano do século XVIII. Já Edward, chefe da horda de “homens-macacos”, buscando de forma obsessiva o desenvolvimento, explicita a ideologia Evolucionista do século XIX: a noção de progresso é preocupação central e o homem caminharia em direção a um estado superior de civilização, que, para Edward seria a condição de Homo sapiens.

Apesar da primeira edição de “Por que Almocei meu Pai” ter sido publicada em 1960 e “A Guerra do Fogo” ter sido lançado em 1976, é possível retirar do livro uma crítica que caberia muito bem ao filme de Annaud. Uma das cenas finais do longa-metragem mostra um casal olhando para a lua e o macho acariciando a barriga da fêmea, que está grávida. Mesmo perdoando o diretor por ter utilizado um artifício típico do cinema para pontuar uma hipótese plausível (o início das relações afetivas), é impossível não lembrar dos trechos em que Ernest e Griselda, no livro de Lewis, desfrutam da felicidade amorosa brincando de “pegador nas águas rasas do pântano” e passeando “abraçados, sob a luz das estrelas”, sendo o ideal de amor romântico claramente parodiado.

A correlação entre as duas obras é evidente: o momento histórico coincide e o eixo narrativo é o mesmo – o uso do fogo. Portanto, quando colocados lado a lado, o livro e o filme tecem um quadro satisfatório desse período distante, mas fundamental para o desenvolvimento do ser humano.

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