quarta-feira, 2 de julho de 2008

O Novo Espírito Científico. Gaston Bachelard

p.11 Duas metafísicas contraditórias associadas no espírito científico moderno: racionalismo e realismo.

Segundo Bouty, a ciência é um produto do espírito humano, produto conforme as leis do pensamento e adaptado ao mundo exterior. Ela oferece um aspecto subjetivo e outro objetivo, na medida em que é impossível mudar tanto as leis do mundo como as do espírito.

· Bachelard: racionalismo redobrado que encontra nas leis do mundo as leis do espírito; realismo universal impondo invariabilidade absoluta às leis do espírito, já que são parte das leis do mundo.

p.12 Tanto realistas se guiam por princípios racionalistas como racionalistas se deixam instruir por uma realidade que não conhecem a fundo: não há nem realismo nem racionalismo absolutos.

Impureza metafísica se deve ao duplo sentido da prova científica, que se afirma na experiência e no raciocínio, ao mesmo tempo num contato com a realidade e numa referência à razão.

Além disso, há o fato de que a filosofia da ciência é uma filosofia que se aplica, não podendo guardar pureza e unidade de uma filosofia especulativa.

p.13 Na atividade científica se há experimentação, há raciocínio; se há raciocínio há experimentação.

Ciência Contemporânea se ocupa de uma síntese de contradições metafísicas. Entretanto, o vetor epistemológico é bem claro: vai seguramente do racional ao real e de nenhum modo, da realidade ao geral – é uma aplicação realizante.

Nas ciências, a realidade se manifesta em sua função essencial: fazer pensar.

p.14 Realização do real corresponde a um realismo técnico, traço distintivo do pensamento científico contemporâneo. Um realismo de segunda posição, em reação contra a realidade usual, em polêmica com o imediato, realismo constituído de razão realizada, razão experimentada.

Real que lhe corresponde não é rejeitado ao domínio da coisa em si incognoscível. Real científico é feito de uma contextura noumenal própria a indicar os eixos da experimentação: experiência científica é razão confirmada.Real não é mais objeto de conhecimento, mas pretexto do pensamento científico: deve-se passar do como da descrição ao comentário teórico.

Volta do normativo na experiência: necessidade da experiência sendo apreendida pela teoria antes de ser descoberta pela observação. Hipótese deve ser tão real quanto a experimentação, deve ser realizada: é síntese.

p.15 Pensamento científico é metafisicamente indutivo: lê o complexo no simples, diz a lei a propósito do fato, a regra a propósito do exemplo.

Pensamento científico passa do porquê ao porquê não: toda experiência nova nasce apesar da evidência, toda experiência nova nasce apesar da experiência imediata.

p.16 Real científico está em relação dialética com Razão científica e uma experiência bem feita é sempre positiva, mesmo que em outro campo disciplinar. Mas, uma experiência nunca é bem feita se não for precedida de um projeto bem estudado a partir de uma teoria acabada.

p.17 Condições experimentais são condições de experimentação: ensinamentos da realidade não valem senão enquanto sugerem realizações racionais.

Nenhum método pode manter sua fecundidade se não renovar seu objeto.

p.18 Objetividade como tarefa pedagógica difícil e não mais como dado primitivo.

Duplo sentido do ideal de objetividade: valor real e social da objetivação. Perante o real mais complexo, se estivéssemos abandonados a nós mesmos, o mundo seria nossa representação. Se estivéssemos abandonados inteiramente à sociedade é do lado do geral e do útil que procuraríamos o conhecimento: o mundo seria nossa convenção. Entretanto, transmitimos de uma só vez pensamento e experimentação: mundo científico é nossa verificação. Acima do sujeito, além do objeto imediato, a ciência moderna se funda sobre o PROJETO.

Demonstra-se o real, não se mostra o mesmo. Não se pode chegar à objetividade senão expondo de uma maneira discursiva e detalhada um método de objetivação.

p.19 Instrumentos não são senão teorias materializadas, deles saem fenômenos que trazem por todos os lados a marca teórica.

Ciência suscita o mundo, não mais por impulso mágico, imanente à realidade, mas antes por um impulso racional, imanente ao espírito. Atividade científica realiza conjuntos racionais.

p.20 Renouvier

· substância é sujeito lógico de qualidades e relações indefiníveis, ou

· substância é ser em si, indefinível e incognoscível

Ciência técnica: introdução de um terceiro termo – substantivo substancializado. Substantivo, que é sujeito lógico, se torna substância desde que o sistema de suas qualidades é unificado por um papel. Pensamento científico constrói assim totalidades que tomarão unidade por funções decisivas.

p.21 Para um cientista, o SER não é apreendido nem em bloco nem pela experiência nem pela razão.

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